(Texto de Margarida Leal, publicado na agenda cultural de Almada, Novembro 2007)
A Companhia de Dança de Almada (CDA) nasceu há 17 anos, pela mão da professora Maria Franco. "Treinávamos no palco do cinema", lembra, recuando no tempo até à época em que ainda fazia parte do grupo de dança da Academia Almadense.
Dependia muito do horário das projecções dos filmes para usar o palco, treinavam lado a lado com os alunos de judo ou de ginástica mas progrediram de forma tão evidente que cedo nasceu a ideia de formar uma companhia de dança autónoma e profissional.
O galardão atribuído pela Secretaria de Estado da Cultura, em 1990, no âmbito de um concurso nacional, permitiu-lhes reunir os recursos necessários para fazer arrancar este projecto. Nascia assim a Companhia de Dança de Almada.
Os alunos, que tinham começado com cerca de seis anos a dedicar-se à dança, queriam e podiam agora chegar mais longe.
Hoje, ao fazer uma retrospectiva, Maria Franco apercebe-se de que trabalhou o corpo de mais de mil crianças e jovens, iniciados na dança pela sua mão. E é com orgulho que lembra o nome e o percurso de cada um deles: uns são professores, outros criaram a sua própria academia, outros alcançaram o ensino superior, outros ingressaram em companhias estrangeiras. E outros desistiram, porque a vida de bailarino é muito exigente.
Dançar: profissão e prazer
Os objectivos da CDA não são só conceber, produzir e levara palco espectáculos
de dança, mas também apoiar jovens criadores, fomentar novos públicos para
a dança contemporânea, fazer digressões, workshops, ateliers, entre muitas
outras iniciativas.
Em 1998, a CDA acrescentou às suas estruturas uma escola de dança, não só
para dar a mão a quem quer fazer carreira nesta área, mas também para quem
dançar é apenas um prazer e uma descoberta.
Actualmente há cerca de 150 crianças a frequentar aulas de dança, de vários
estilos e níveis, mas nos inscritos contam-se também alguns adultos.
Maria Franco discorda do conceito dos antigos mestres de dança que viam os profissionais como seres "eleitos", mas que tinham de sofrer para poder alcançar um nível superior. Para esta professora, a dança é para todos. Dançar faz bem à alma e ao corpo: relaxa, dá-nos noções de equilíbrio, corrige-nos a postura, permite-nos comunicar, incute disciplina. E acima de tudo, dá-nos prazer. A CDA promove igualmente workshops, ateliers e cursos para a quem não quer fazer desta área a sua profissão. O conhecimento adquirido nestes contactos permite algo ainda mais extraordinário: depois de terem conceitos básicos, as pessoas sabem ver, apreciar e valorizar um bom espectáculo de dança.
Preenchendo o que considera ser uma "lacuna" do sistema educativo português, promove cursos para crianças a partir dos quatro anos (dança criativa, ballet clássico, dança contemporânea); cursos para jovens e adultos (dança contemporânea; modern dance; ballet clássico; barra de chão; postura e movimento; Hip Hop; Danças de Salão); e ainda sessões de música e movimento para bebés e um curso intensivo de dança (Julho).
Quinzena faz 15 anos
Na Quinzena deste ano actuam 20 companhias/coreógrafos, de 19 países. São apresentadas 9 criações, num total de 14 espectáculos. Há ainda lugar para um Workshop destinado a alunos de dança e teatro, quatro ateliers para bebés e crianças, duas sessões da Mostra Internacional de Vídeo-Dança, uma Exposição de Artes Visuais e a Conferência final onde será lançado o livro comemorativo dos 15 anos de edições.
A Quinzena espalha-se por cinco concelhos, levando a Dança contemporânea pêlos palcos de Almada, Lisboa, Mafra (Ericeira), Montijo, Alcochete e Setúbal. A programação da 15a Quinzena de Dança de Almada pode ser consultada nas páginas desta agenda, no capítulo de Música e Dança.
Montar um espectáculo
Cada espectáculo demora uma pouco mais de 60 minutos a ser apreciado, mas vários meses a ser concebido.
Uma criação nasce a partir de uma ideia, inspirada numa obra literária, num filme, num tema da actualidade. Depois é preciso pesquisar sobre o assunto escolhido, consolidar a ideia a transmitir, escolher artistas, pensar nos figurinos, conceber o guarda-roupa, desenhar os sons que vão fazer parte da peça. Começou a criação.
Depois de tudo estar definido há que passar a mensagem a quem vai executar a peça, transmitir-lhes os movimentos, os sentimentos, os conceitos. Os bailarinos têm de a interiorizar, encarnar os personagens e começar a ensaiar. Com isto passam-se pelo menos dois meses. Entretanto outros profissionais vão construindo os cenários, definindo o jogo de luzes, concebendo as bandas sonoras. Aos ensaios em estúdio, seguem-se os ensaios em palco, já com peças de adereço e cenários reais. Passa-se então à montagem final do espectáculo, aos ensaios técnicos e gerais e, finalmente, ao dia do veredicto do público e da crítica: a estreia.
Para garantir as duas estreias anuais a que se propõe, a CDA conta com um núcleo da criação e produção com cerca de 20 profissionais, entre a produção artística, direcção técnica, sonoplastia, iluminação, professores, coreógrafos, entre outros.
Na execução de todo o trabalho prévio estão sete bailarinos, três homens e quatro mulheres, com uma formação sólida em diversas áreas. Porque é preciso saber interpretar qualquer peça criada, seja eia exclusivamente dançada ou dançada e falada, seja ela baseada no ballet clássico ou com técnicas mais modernas ou contemporâneas.
No fim, os bailarinos percorrem os espaços, diluem-se com as luzes, transmitem com o silêncio dos seus corpos uma catadupa de sentimentos. Se dançar é um acto de prazer, ver um bom espectáculo não deixa ninguém indiferente. Por isso não se esqueça, faça parte do público da Quinzena da Dança de Almada.
Texto (Margarida Leal) e imagens (CDA e Anabela Luís), publicados na edição Novembro 2007 da Agenda Almada Informa, edição Câmara Municipal de Almada.
terça-feira, 6 de novembro de 2007
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