terça-feira, 30 de outubro de 2007

Mostras de Música Moderna em Almada: 1996 a 1999

Em 1996, a “Mostra Um” realizou-se no “mítico” (e, pouco depois, demolido...) Espaço Lemauto, em Cacilhas (junto ao quartel dos Bombeiros).
Foi também nesse ano que, impulsionada por Paulitus (músico e dinamizador cultural, importante figura do meio “alternativo” almadense dos anos 90), começou a tomar forma a Associação Livre de Músicos de Almada (ALMA). Embora a ALMA nunca se tenha constituído formalmente como associação, conseguiu algumas “vitórias”, enquanto “grupo de pressão” representativo dos elementos das bandas.

Transcrevo, do jornal Sul Expresso, uma tentativa de caracterização do que era, neses anos, a "cena musical alternativa" de Almada:

Nenhum músico de Almada gosta de ser "catalogado". Mas a verdade é que ideias e projectos não faltam, abrangendo praticamente todas as áreas da "música moderna", desde o mais límpido "pop" aos mais pesaados sons das diversas vertentes do "metal. «Hoje em dia, qualquer "puto" de doze anos junta um grupo de amigos para formar uma banda», diz-nos um jovem mais "idoso", músico de Almada «com orgulho».

Exemplo (e novidade da “Mostra Um”): a constituição de um grupo de trabalho, com represententes da ALMA e da Câmara de Almada que, em conjunto, organizaram o certame desse ano. Uma experiência que resultou e que, por isso mesmo, se repetiu nos anos seguintes.

Em 1997, demolida a Lemauto, a “mostra” fez-se mesmo nos “subterrâneos” (leia-se: garagens) do quartel dos Bombeiros Voluntários de Cacilhas.



O número de bandas em actividade era sempre crescente, nesses anos da década de 90. Isso levou até a que a Câmara de Almada fosse obrigada a impôr, pela primeira vez, restrições à participação na “mostra”.

Mais uma vez, recorro ao semanáro Sul Expresso, neste caso de Abril de 1997 (se ainda não perceberam: é porque os textos que estou a citar são de artigos e entrevistas escritos por mim...):

Há quem assegure que no concelho «existe perto de uma centena de bandas». É o que diz Rui Pereira, funcionário da Casa Municipal da Juventude. «Temos um registo de bandas que aponta nesse sentido», garante. E acrescenta que «na recente Quinzena da Juventude, prevíamos ter trinta grupos a participar, mas chegaram-nos o dobro das candidaturas; se a estes juntarmos os que ainda não têm condições para tocar ao vivo, chegamos à conclusão de que devem andar por aí mais de cem bandas!». (Texto completo aqui)

Uma centena de bandas, ou mesmo mais? Não se admirem: havia muita gente que participava em várias ao mesmo tempo.

Em 1998, a “Mostra Três” realizou-se numa tenda, em zona central da cidade (na Praça São João Baptista, que ainda não tinha as esplanadas da “fast food”). Participaram 41 bandas (nesse ano, com as expressões do hip-hop a marcar forte presença, equilibrando assim o certame que, em edições anteriores, era essencialmente “pop” e “rock”). E, pela primeira vez, o evento teve direito a “cabeças de cartaz” assumidos.
Por exemplo: Lulu Blind, Thormenthor, Líderes da Nova Mensagem, Black Company... e os tais “putos” que, três anos antes, eram os últimos a inscrever-se na “Mostra Zero”. Pois, adivinharam: os Da Weasel (que eram, já em 1998, uma banda “crescidinha”)!

Em 1999, a fechar a década, a mostra torna-se, pela primeira, vez autónoma em relação à Quinzena da Juventude. Assume, em definitivo, um “estatuto” próprio, e passa a realizar-se em Julho. Nesse ano, são 40 as bandas que passam, então, pelo pretigiado palco do Salão de Festas da Incrível Almadense.

Lia-se no programa dessa edição:

“A quinta edição da Mostra de Bandas de Música Moderna de Almada realiza-se este ano, pela primeira vez, no mês de Julho, enquanto iniciativa autónoma. Quer por se traduzir num momento que reflecte algum do trabalho produzido por parte das bandas do concelho, quer pelos encontros, permutas e dinâmicas que proporciona, esta iniciativa constitui um momento de particular alegria e riqueza no seio do movimento musical almadense. A diversidade de bandas, estilos musicais e todo um trabalho que continuamente as bandas vêm desenvolvendo, foram algumas das razões pelas quais a Mostra adquiriu um espaço próprio, susceptível de proporcionar novas conquistas ao nível da consolidação da própria iniciativa”.
A Mostra de Bandas de Música Moderna de Almada teve ainda mais 4 edições nos anos seguintes (que, finalmente, passaram a ter lugar na Casa da Juventude do Laranjeiro – a “Casa Amarela”, ou seja, o ex-“futuro rockódromo”...).
Em 2004, Câmara e bandas chegam a acordo para modificar o “modelo” do certame. Nasce, então, o Concurso de Música Moderna.
Mas isso é outra história, para ser contada numa outra ocasião.

António Vitorino

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